terça-feira, 5 de março de 2024

NÔ ALMEIDA, "O VEREADOR DAS MASSAS POPULARES”


          Era assim que se autodenominava o Sr. Clidenor Félix de Almeida, ao atender um telefonema. Era uma figura folclórica e interessante na vida política e social de Itabaiana. Quem melhor definiu Nô Almeida, foi o Dr. Aglair da Silva: “Igual a Nô, só ele mesmo”.


          Tornei-me amigo de Nô Almeida, através da política. Até 1977, tinha com Nô, um relacionamento formal. A partir dessa data até seu falecimento em 14 de março de 2002, ou seja, por mais de 25 anos fomos grandes amigos apesar da diferença de idade e de credo político. Ele de um partido e eu de outro. Era frequentador assíduo de sua casa na Rua Vereador Luiz Martins de Carvalho. Tínhamos visões diferentes na política, mas isso não impedia de almoçar o pirão de dona Lia nas quartas-feiras e na sexta-feira tomar o 2° café da manhã em sua Mesa Giratória, que orgulhosamente ele chamava de " Põe-te Mesa". Nessa mesa, Lia sempre colocava mais um prato, copo e talheres para "As visitas inesperadas". A casa de Nô, era sinônimo de Mesa farta, Copo cheio e Barriga cheia. Nunca faltava uma cerveja gelada, uma boa caninha brejeira e cigarros Gaivota ou Clássicos no seu bolso. O tira gosto, sempre era de dar água na boca. E o melhor e mais famoso dos tiras gosto, era a "Rolinha Recheada”, que segundo Nô, só quem sabia fazer era Dona Lia.


          Ao longo dos anos, aprendi muito sobre sua personalidade. Observei que Nô tinha uma enorme capacidade de fazer amigos e articulações políticas. Não guardava rancores, apesar de ser "Popeiro". Tinha memória privilegiada. Conhecia a história de cada família de Itabaiana, principalmente os ramos das famílias Almeida, Félix e Oliveira das quais era originário. Costumava dizer que essa sua família tinha muitos Gênios e muito doido também, e dava uma sonora gargalhada. Era um profundo conhecedor de Músicas Antigas e tinha o hábito de relacionar letras de músicas com episódios ocorridos em sua vida. 


          Na política, era matreiro. Era capaz de mudar o resultado da votação de qualquer Projeto que chegasse à Câmara Municipal, ou mesmo influenciar na Eleição da Mesa Diretora da Câmara, após uma Boa Conversa de Pé de Ouvido. Foi eleito Vereador em Itabaiana 6(seis) vezes consecutivas. Era vaidoso. Todo final de mês, no quintal de sua casa à sombra do Pé de Manga Mel, perto da Cisterna e do Cacimbão, sentava-se em um tamborete e mandava Lia pintar seu cabelo, seu bigode e sua "Titela". Eu perguntava:  Pra quê essa besteira Nô? Você pode arrancar uma, duas, cem, mil flores, só não vai impedir a chegada da primavera! Do mesmo jeito, você pode usar toda tinta do mundo, mas não vai impedir à chegada dos Cabelos Brancos e da Velhice. Prontamente, Nô respondia: “Ficar velho, sim, mas com Cara Nova! Não é Lia?” e Lia tinha que concordar. 


Adorava a família. Formou com sua Consorte Lia, um casal tão unido, que era difícil dissociar um do outro. Era comum se ouvir a expressão: "Seu Nô de Dona Lia" e "Dona Lia de Seu Nô". Apareceu até uma música de Cunho Político (Jingle) fazendo referência aos dois. Nô teve em Lia, seu grande sustentáculo político. Na área social, Lia fez um imenso trabalho, além de apagar alguns incêndios que o Temperamento Afobado de Nô ateava.


          O trabalho social de Lia e as conversas de pé de ouvido de Nô renderam 6(seis) mandatos de vereador ao já cognominado "Vereador das Massas Populares”. Não costumava usar a Tribuna da Câmara ou os Palanques nos Comícios. Quando questionado sobre essas atitudes, respondia: “Quem muito fala, muito erra. Além do mais, tem gente quando bota pra falar, sempre faz da Boca, cu.”


          Era alegre e extrovertido. Agora, se dessem uma cutucada em seus calos, ao invés de conversa de pé de ouvido, o agressor teria uma canhota no pé do ouvido. "Para aprender a ser gente". Ao falar sobre suas Venturas e Desventuras na vida, dava sempre um tom engraçado à suas narrativas. De sua infância pobre em Campo Grande margem esquerda do Rio Paraíba, fazia referência à partilha do Cabeça Amarrada (Cuscuz) no café da manhã entre os comensais. Levava-se em conta a proporcionalidade do pedaço, a idade e a capacidade laborativa dentro da família. Falava ainda, das garrafas secas que "subtraía” do Velho Leonel e vendia em outra bodega. Usava o dinheiro para comprar "brotes" e "pão doce" pra comer sozinho escondido por trás de uma cerca de avelós.


          Militante do antigo PSD e Vereador na época do golpe militar de 1964, vendo várias pessoas de Itabaiana sendo presas pelo exército, resolveu chamar o amigo e também militante do PSD Arnaud Costa, para irem se esconder em Areia, na casa de Padrinho Abelardo, funcionário da Escola de Agronomia do Nordeste, Itabaianense e amigo dos dois. Arnaud Costa alertou que quem mandava em Areia era o Major Cunha Lima, chefe político da “Mardita" UDN e lá, seriam presos na hora. Desistiram da viagem. Não teve problemas com nenhum dos dois.


          No mandato do Prefeito Dr. Josué Dias de Oliveira, (janeiro de 1969 a janeiro de 1973), uma viatura do exército chegou em Itabaiana e intimou Dr. Josué para prestar depoimentos em um quartel do exército. Na época, Nô Almeida vereador pelo MDB e Arnaud Costa Secretário do Prefeito e do Partido, botando às Barbas de Molho pegaram por empréstimo ao proprietário rural José Paulo de Lucena, dois cavalos com os sugestivos nomes de “Mamão e Melado”, e passaram dois dias na Fazenda Caldeirão, aguardando notícias e que ventos melhores soprassem. Nada aconteceu e retornaram a Itabaiana.


          De sua única viagem de avião (foi até Brasília com o Dr. Aglair e outros vereadores), fazia a maior gozação referindo-se à uma "Carta - Testamento" que tinha deixado com amigos e que deveria ser aberta em caso de o avião cair. Não havia carta nenhuma, era só pra aperrear Lia. Falava ainda muito orgulhoso, dos amigos que fez em Brasília. Em uma churrascaria, passou-se por um neto do poeta Cassimiro de Abreu. Trepado em uma cadeira e com um lenço amarrado no pescoço, cantou algumas músicas de Orlando Silva. Deu um verdadeiro show nessa sua "Avant Premiére Candanga".


          Sentar em seu terraço ao entardecer, tomando um cafezinho com bolachas quentinhas e ouvir essas narrativas, era um deleite. Certo dia cheguei em sua casa, e ele muito sério foi logo me dizendo: “Sabe fazer contas? Se sabe, pegue um papel e um lápis para fazer a divisão de uma Herança Maldita que tenho em Campo Grande.” Quem herança é essa Nô? Perguntei. “Deixe de conversa mole, que depois eu digo, divida aí: Um hectare, 23 ares e 35 metros quadrados por 11 herdeiros”. Fiz a divisão e disse o resultado. O "Latifúndio de Nô", era menor que a área coberta de sua casa. “Divida esse terreno por cinco”, ao ver o resultado da divisão, gritou: “Tá vendo Lia? Esse é o resultado da herança maldita que deixaram pra mim, não dá nem pra fazer um Cagador decente pra meus netos.” Disse isso referindo-se aos filhos de Renato, Rosane e Roberto (Beto) e deu boas gargalhadas.


          Nô via poesia em tudo. Possuiu dois Fuscas, um branco e outro verde. Esses carros foram batizados com os poéticos nomes de “Branca de neve” o Fusca Branco, e, “Lírio Verde da Esperança” o Fusca Verde. Ao adverti-lo que os Lírios são brancos, ele respondeu: “Mas a Esperança é Verde”. Pra viajar em Branca de Neve ou Lírio Verde da Esperança, um conjunto de normas tinha que ser cumprido. Não ultrapassava os 80 km, não saía dia de chuva, não andava em estrada esburacada e não emprestava a ninguém.


          Nô Almeida não mandava recado. Dizia cara a cara se estava ou não gostando de uma situação. Não estava interessado se o interlocutor era trabalhador braçal ou governador do Estado, os episódios narrados a seguir, ilustram bem a maneira de ser de nosso Vereador. Nô apoiou o Ex-Senador Efraim Morais (o pai) em Itabaiana, em sua primeira eleição para Deputado Estadual. Alguma coisa não fechou bem entre os dois, e em uma reunião do PFL em Guarabira da qual Nô participou, deu-se o seguinte diálogo: “Como vai, amigo Nô? Como está nossa Itabaiana? Estou devendo uma visita a vocês. Exclamou Efraim”. “Eu vou bem, Itabaiana está no mesmo lugar, e quanto a sua dívida, não é só a visita não, tá me devendo 20 sacos de cimento que dei a eleitores em seu nome. Até agora, nada.” Efraim chamou Nô para uma Conversa de Pé de Ouvido, e pouco depois ambos saíram abraçados, sorrindo e satisfeitos.


         O jornalista e Deputado Estadual Soares Madruga, não tinha dinheiro, mas tinha muito prestígio junto ao Governo do Estado e muita lábia para convencer seus eleitores. Tentando obter apoio a sua Candidatura à Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, sacudiu muita conversa bonita pra cima de Nô. Após intermináveis doses de Whisky, salgadinhos e muita conversa, Soares Madruga perguntou: “Então Nô, estamos juntos nessa empreitada?”. “Nessas empreitadas Deputado, só entro com Condições (e esfregou o polegar sobre o indicador, sugerindo apoio financeiro), e Condução (fez um movimento com às duas mãos, sugerindo o volante de um carro). Não teve Conversa de Pé de Ouvido, não teve acordo.


          O Governador Wilson Braga foi a Itabaiana inaugurar obras da CAGEPA. Muita festa, muitos fogos, e já no palanque antes do discurso Wilson Braga pergunta a Nô: “Fora a CAGEPA, o que foi que eu trouxe mais para Itabaiana, Nô?”. “Muita confusão e muito fuxico, Governador”, Responde na bucha. Nô Tinha resposta pronta para todo tipo de pergunta. Foi questionado certa vez, sobre seu nível de escolaridade. Sua resposta foi: “Fiz o Curso Primário ‘Bem Feitinho’ em 1940.” E escorregava o polegar sobre o indicador, insinuando o pagamento de propina pelo Diploma. E dizia ainda: “Não se preocupem não, ganho de qualquer Doutor de anel no dedo, sou formado pela UNIVIDA, a Universidade da vida.” E dava boas gargalhadas.


          Era uma pessoa "Sui Generis". Comemorava duas datas de aniversário e explicava o porquê. “Nasci no dia 21 de junho de 1928. Fui registrado alguns anos depois como se tivesse nascido no dia 22 de junho de 1928. O dia 21 de junho, é a data de fato. O dia 22 de junho é a data de direito, quero dois presentes”, e caía na risada. De personalidade alegre e extrovertida, onde chegava fazia a festa e novos amigos. Sua casa parecia um prédio público. Em época de seca, imensas filas se formavam na frente para pegar água de um Cacimbão que nunca secava. Eu era um de seus "fregueses". Um menino enchia meus vasilhames e eu aproveitava para tomar um cafezinho, e colocar às conversas em dia. De duas em duas horas ele parava a retirada da água por 15 minutos para o "Pobre do Cacimbão" descansar, pois, ninguém era de ferro, sempre dizia.


          Fiz uma Cirurgia Cardíaca em 1992 aos 40 anos. Uma Ponte de Mamária. Quando voltei pra casa, O Vereador das Massas Populares, foi um dos primeiros a me visitar. Na conversa que tivemos além dos "conselhos" que deu, perguntou se com um mês após a cirurgia, eu poderia caminhar uns 3 km a noitinha. Respondi que a caminhada eu deveria fazer diariamente, pequenos trechos, três quilômetros de uma vez talvez não aguentassem. “É que eu fiz uma promessa a Santo Antônio, para no dia dele, 12 de junho, a gente sair lá de casa com a imagem do Santo num andor de tardezinha e você pegar no "Andor" umas quatro vezes de lá de casa até a Capela de Santa Luzia em Campo Grande”. Disse Nô.


          Eu disse: “Nô, não sei se vai dar não, pode ser uma mais maneira não? Por exemplo: Deda me leva no carro acompanhando. Certo?”. “Certo o que seu cabra, você pode tá faltando com promessa à Santo rapaz? Você não é besta, não? Deva a todo mundo menos promessa à Santo” disse Nô, me dando um ultimato. “Deda vai no carro e você vai a pé, segurando o andor de vez em quando. Deda lhe traz de volta no carro e estamos conversados.”


          No dia de Santo Antônio, saiu da casa de Nô uma pequena multidão a pé com o Santo Antônio no "Andor" às 7 horas da noite, em direção a Campo Grande. O público era formado por devotos do Santo, meus parentes, amigos e eleitores que tinham votado em mim para Vereador. Vários outros amigos e eleitores de Nô, que ele os havia convocado o dia todo anunciando na Difusora de João do Bode. Ao longo do caminho, várias pessoas iam aderindo a Procissão. Fizemos uma pequena parada em frente ao Hospital São Vicente de Paulo, e os funcionários e pacientes me fizeram uma emocionante homenagem. Esse ato foi uma bela demonstração do apreço que Nô Almeida tinha pelos verdadeiros amigos.


          A fé em Deus, a fé no Santo e a fé na perícia do Dr. Josalmir, sobrinho de Dona Rosilda Melo do Cartório, me garantiram a eficácia dessa Cirurgia por 31 anos. Em 2022, fiz duas Angioplastias Coronarianas que vem dando certo até agora. O meu amigo Nô estava sempre pronto a receber amigos, políticos, parentes e fofoqueiros, que sempre o visitavam em busca de uma boa prosa regada a boa bebida, boa comida e boa música. Não podia faltar fofocas. Certa vez Nô me confidenciou que teve dois Grandes amigos que já haviam partido. Zé Silveira e Dr. Aglair. Lamentava muito que os dois não tivessem se conhecido em vida.


          Certamente, quando Nô fez sua mudança para a Vida Espiritual, lá encontrou esses dois amigos e já promoveu esse Grande Encontro. Ao longo desse tempo que já está em outra vida, encontrou sua querida Amélia (Dona Lia), e outros amigos que foram chegando posteriormente. Naturalmente, como era do seu feitio, fez novos amigos. Principalmente Cantores e Compositores da Velha Guarda, já que gostava tanto da Boa Música. Também deve ter feito amizade com alguns Santos Influentes. Fico a imaginar os duetos que já deve ter feito com Orlando Silva, Ataulfo Alves, Nelson Gonçalves e Altemar Dutra, cantando respectivamente: “Meu Romance”, “Errei, Erramos”, “Sertaneja” e “O Trovador”.


          Não conheci o gosto musical de Zé Silveira, mas Nô deve ter homenageado o amigo com alguma música de sua preferência. Agora, tenho certeza de que para homenagear o Dr. Aglair, Nô formou um Trio com Sérgio Bittencourt, Jacob do Bandolim e Ele, e cantaram “Naquela Mesa”.


          Meu amigo, "Vereador das Massas Populares", nesse próximo dia 14 de março de 2024, completa 22 anos de sua ausência. Senti uma imensa vontade de homenageá-lo com essa crônica. Tenha Paz e Felicidade em sua Vida Eterna. Aqui na Terra, seus familiares e amigos ficarão com as Lembranças e Saudades.


José Barbosa De Lucena (Dr. Dedé)

Itabaiana, 01 de março de 2023.

 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Uma  viagem a Ferreiros – PE



Manhã de um sábado qualquer de 1982. Eu estava saindo de um plantão de 48 horas seguidas no Hospital Regional e Maternidade São Vicente de Paulo, em Itabaiana. Como sempre, um plantão bastante movimentado, uma vez que o Hospital era regional, e atendia a 18 Municípios vizinhos, inclusive, alguns do Estado de Pernambuco. Antes de ir para casa, passei na feira livre do sábado, onde comprei frutas, verduras e carne. 


Cheguei em casa, fui recebido por minha jovem esposa. Tomei banho para retirar a ressaca e a inhaca do plantão, tomei café e fui dormir um pouco. Mais ou menos às 10 horas da manhã, chega em minha casa, buzinando freneticamente, “O Vereador das Massas Populares”, o meu dileto amigo, Nô Almeida. Estava dirigindo um Fusca Verde por ele batizado de “Lírio Verde Da Esperança”.  Com a Zoada e o Alvoroço dos Almeidas, foi logo gritando:


- Deda! Cadê o Dotô Dedé?

- Está dormindo Seu Nô! Chegou do plantão agorinha! Respondeu Deda.

- Acorda ele urgente, pois Eu, Arnaud Costa e Dotô Aglair, temos um assunto muito sério a tratar com ele, disse Nô.

- Mas, seu Nô!... - balbuciou Deda.

- Seu Nô, nada! Acorde logo o homi, pois Dotô Aglair e Arnaud Costa, estão lá em casa. Cuspiram no chão e disseram que eu tinha que levar o Dotô lá pra casa, antes do Cuspe secar!  Estou aqui pra isso! Disse Nô! e foi logo entrando e se aboletando no sofá da sala.


Não precisa dizer, que quando Deda foi me acordar, eu já estava vestindo a roupa, acordado que fui pelo timbre de voz peculiar do meu amigo. Eu estava certo, que seria convidado para uma boa farra.


- O que foi que houve Nô? Perguntei.

- Sei não! Quem sabe é Dotô Aglair e Arnaud Costa que querem falar com você urgente. Respondeu Nô.

Já aboletado em “Lírio Verde Da Esperança”, Nô disse pra Deda:

- Tenha cuidado não! Nós vamos cuidar bem dele!

Deda ficou com uma mosca na orelha.


Aqui, peço licença, para retroceder 11 anos, e retornar a época que passei no Vestibular de Medicina, em janeiro de 1971. Meu Pai, tinha um Bar e Restaurante na Rua Fernando Pessoa n° 63 (A Rua da Ponte), desde 1966.


O Dr. Aglair da Silva, um dos maiores cirurgiões que já vi atuar, e que tive a ventura de aprender seus Ensinamentos, terminou o Curso de Medicina em 1968 e logo foi convidado pelo Dr. Antônio Batista Santiago, médico, chefe político e dono do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo em Itabaiana, para trabalhar no Hospital. Dr. Aglair, tornou-se freguês do Restaurante do meu Pai. Minha Mãe e toda minha família, tornaram-se clientes de Dr. Aglair. As qualidades de Dr. Aglair como Cirurgião, logo correu por todas as 18 cidades que o Hospital atendia. Pessoalmente, não conhecia o Dr. Aglair. Em 1968 e 1969, eu cursava o 1° e 2° ano do Técnico Agrícola (O Capa-Gato) em Areia. Em 1970, eu cursava o 3° ano Científico de Medicina no Liceu Paraibano em João Pessoa. Em janeiro de 1971 passei no Vestibular de Medicina da UFPB.


Em 1971, em Itabaiana, apenas 4 pessoas passaram no Vestibular. Era um acontecimento na Cidade. Em Medicina passamos Eu e Dr. Erivaldo, filho de Seu Zito Coletor e irmão de Erivelton, funcionário do Banco do Brasil, recentemente falecido. Em Engenharia, passou o Dr. José Maria de Almeida Filho. Em Letras, passou a Professora Terezinha Queiroga, já falecida.


Fui apresentado ao Dr. Aglair, em março de 1971, poucos dias antes do início do Ano Letivo na Faculdade. Meu Pai e minha Mãe, muito orgulhosos, apresentaram o futuro Médico ao Grande Cirurgião Dr. Aglair da Silva. Prontamente, ele ofereceu-se para que eu o acompanhasse quando surgisse uma oportunidade de estágio no Hospital de Itabaiana.


Em janeiro de 1972, minha Mãe precisou fazer uma Histerectomia Total (Retirada de Útero, Ovários e Trompas), e o Dr. Aglair seria o cirurgião. Fui convidado por ele para, pela 1° vez, entrar em uma Sala de Cirurgia …e assistir como se fazia uma Cirurgia.  Fiquei um pouco apreensivo, mas aceitei o convite. A partir dessa data, começou uma longa parceria e amizade.


A partir de 1973, quando iniciei o 4° período do Curso de Medicina, comecei a frequentar às dependências do Hospital São Vicente de Paulo, onde fiquei até outubro de 2015 quando o mesmo fechou suas portas. Foram 5 anos como Estudante e 38 como Médico. Ao todo, 43 anos ininterruptos. Primeiro comecei observando muito. Depois, aos poucos entrando como auxiliar do Dr. Aglair nas Cirurgias mais simples, para segundo Ele, “Ir Perdendo o Medo”. Aos poucos, foi-se estabelecendo uma Grande Amizade e Confiança Mútua.


Eu, bem jovem, 12 anos mais novo que Dr. Aglair. Ele nasceu em 1939 e eu nasci em 1951. Aos poucos, mas com segurança e firmeza, fui aprendendo os segredos da Cirurgia e me tornei praticamente o “Ajudante Oficial” das Cirurgias de Dr. Aglair, no Hospital São Vicente de Paulo e no antigo Pronto Socorro Municipal de João Pessoa, como Estudante sempre aos Domingos, de 1974 à 1977, ano da minha Formatura.


Em 1976, o Dr. Antônio Batista Santiago, na época, Prefeito de Itabaiana, lançou o Dr. Aglair como Candidato à sua sucessão como Prefeito. Eu estava no 10° período do Curso de Medicina (equivalente ao 5° ano de Medicina) e praticamente, morava no Hospital. Só não tinha ainda o Diploma, mas era capaz de realizar alguns tipos de Cirurgia. Devo esse aprendizado, principalmente ao Dr. Aglair, e ao Dr. Lindonor Pires de Almeida, que também teve uma boa influência no meu aprendizado. 


A campanha para Prefeito de Itabaiana em 1976, foi duríssima. O Dr. Aglair concorreu pela ARENA 1, eis os Resultados:

- ARENA 1 - Dr. Aglair da Silva + Fernando Cabral de Melo - 2768 VOTOS

- ARENA 2 - Dr. Emir Nunes + Antônio Carlos Rodrigues de Melo - 1112 VOTOS

- MDB 1 - Cândido Inocêncio Gouveia Neto (Sr. Candinho) + Arnaud Silva Costa - 2030 VOTOS

- MDB 2 - João Pedro da Silva (Capitão Joca Pedro) + Sebastião Tavares de Oliveira (Babá) - 1591 VOTOS 

Diferença Pró Arena de 259 votos, Dr. Aglair Eleito Prefeito para 4 anos de mandato, mas governou por 6 anos, de Janeiro de 1977 a Janeiro de 1983 (mais na frente explico o motivo).


Durante o período em que o Dr. Aglair foi Prefeito, consolidou-se nossa amizade e confiança mútua, ao ponto de, onde chegava, o Dr. Aglair anunciava aos 4 ventos, que queria que eu fosse o seu sucessor na Prefeitura. Eu sempre lhe respondia, que não tinha interesse em Política Partidária, principalmente, concorrendo pela Arena (Partido do Governo Militar), que eu não via com bons olhos. Eu havia votado em Dr. Aglair, por gratidão a ele, não por amor à Arena.


O Dr. Josué Dias de Oliveira (irmão do músico Sivuca), que já havia sido Prefeito pelo MDB de 1968 a 1973, tinha se tornado amigo e aliado do Dr. Aglair. O meu querido amigo, o Rábula Arnaud Costa, que tinha sido Candidato à Vice Prefeito de Seu Candinho do MDB, também havia se tornado amigo, aliado e conselheiro do Dr. Aglair. Esses dois amigos comuns, eram entusiastas da minha indicação a sucessão de Dr. Aglair. Eu não queria. Tinha medo dos Caminhos Sinuosos que muitas vezes, os Noviços em política são levados à Trilhar. Além de não gostar da Arena.


Na gestão de Dr. Aglair, ele era o Prefeito de Direito, mas quem era a Prefeita de Fato, era sua esposa, Dona Dida. Ele continuou a ser o Grande Cirurgião de sempre. Se sentia muito confortável em uma Sala de Cirurgia. Adorava um bate-papo com amigos e pessoas simples. Adversários e Correligionários o adoravam. Ficava muito feliz, quando convidado para comer uma Galinha de Capoeira Torrada em Panela de Barro com lenha de Angico, acompanhada de uma fava verde à sombra de uma frondosa Mangueira e outros acompanhamentos bem geladinhos.


Uma vez me contou em segredo, que detestava a Liturgia do Cargo, Inaugurações, Gente Importante com o Nariz Empinado, o Ambiente Falso onde "Cobras maiores, engoliam às menores", sempre com traições, etc. Como disse antes, Dona Dida começou a aparecer como a Grande Benfeitora de Itabaiana.


Apesar de Dr. Aglair ser o Prefeito, as grandes realizações tinham o DNA de Dona Dida. Ela era dinâmica, atuante, presente, sabia o que queria e enfrentava todos os obstáculos, inclusive poderosos, com muita coragem e determinação. Essa personalidade forte e atuante, a Credenciou junto à população como “Mãe Dida”. E começou-se a falar em Dona Dida ser a sucessora do marido na Prefeitura. Apesar dos riscos com o aspecto legal. A coisa seria mais ou menos assim: “Ganhe no Voto, e o clamor Popular vai inibir a Frieza da Lei”.


Alguém incutiu essa ideia na cabeça de Dona Dida. Ela apegou-se a essa ideia e partiu pra lutar pelo que queria. Alguns antigos aliados tentaram inutilmente tirar essa ideia da cabeça dela. Como consequência, alguns aliados que sabiam do risco que corriam de a chapa ser impugnada não aceitaram participar da chapa como Vice-Prefeito.


Em 1979, uma manobra do Governo Federal, prorrogou os mandatos dos vereadores, vice-prefeitos e prefeitos de todo o Brasil, por mais 2 anos(eis o motivo dos 6 anos de mandato do Dr. Aglair), fazendo com que coincidissem essas eleições, com as eleições para Governadores e Prefeitos das Capitais, que não ocorriam, desde 1965. Essas eleições gerais, seriam em 1982. Só não haveria ainda, eleições para Presidente da República.


Dr. Aglair, parecia ter desistido da ideia de me tornar Candidato a sua sucessão. Fiquei tranquilo. Nem eu queria ser candidato, nem gostava do Partido do Governo, que em 1982 chamava-se PDS. O antigo MDB, agora se chamava de PMDB. Fiquei cuidando de minha carreira de Médico, sendo plantonista do Hospital São Vicente de Paulo, Sindicato de Pilar, Prefeitura de Salgado de São Félix e Prefeitura de Mogeiro, totalmente alheio às lutas paroquiais da política.


Feito esses esclarecimentos, voltemos a bela manhã de um sábado qualquer de junho de 1982.


“Lírio Verde da Esperança” (o Fusca Verde de Nô), desceu a ladeira da minha Casa no Loteamento Luiz Saraiva, atravessou os 295 metros da Ponte sobre o Rio Paraíba, que tinha dado uma Cheia na noite anterior e finalmente chegou na Rua Vereador Luiz Martins de Carvalho, residência do Vereador Nô Almeida. Lá nos esperavam em baixo do Pé de Manga “Rosa Mel”, Dona Lia de Seu Nô, Arnaud Costa e Dr. Aglair.


Desci de Lírio Verde da Esperança e fui logo perguntando:

- Vocês não têm o que fazer não, é? Quarenta e oito horas de plantão vocês mandam Nô me acordar pra ver o quê, em? Todos riram, e Arnaud Costa disse:

- Soldado tem que estar sempre alerta, a qualquer hora do dia, ou da noite!

- Nem ao exército servi, pois me alistei em Município não Tributário. Respondi.

- Já são 11 horas do dia! Vamos embora, resolver o que já está resolvido, disse Nô.

- Se já está resolvido, por que eu preciso ir? Perguntei.

- Precisa sim! Você é parte da solução do problema, disse Dr. Aglair. 

- Eu pensava, que íamos tomar umas "Bicadas", e vocês vêm com mistérios? Ponderei.

- Pra onde tu vai, Nô? Perguntou Dona Lia.

- Vou sair do Município. Só chego à noite pra tomar banho, jantar e dormir, e estamos conversados. Disse Nô, encerrando a conversa.

- Alguma Safadeza, vocês estão aprontando! Reclamou Dona Lia.

Embarcamos em Lírio Verde da Esperança, que tinha algumas Regras Pré-Estabelecidas por Nô:

- Só levava quatro passageiros.

- Não andava à mais de 50 km/hora.

- Não se emprestava a ninguém.

- Não andava em dia de chuva, nem no barro.

- Não se batia a porta com força.


Obedecendo a esses rituais e regras pré-estabelecidas, pegamos a estrada para Pernambuco. Após uns 10km, perguntei curioso:

- Para onde estamos indo? Estão me sequestrando, é?

- Deixe de ser perguntador, e aguarde uns 10 minutos. Disse Nô!


Já no Estado de Pernambuco, andamos mais um pouco, e chegamos à Cidade de Ferreiros. Era mais ou menos meio dia, e paramos em um Bar. No dia anterior, Nô passou no Bar, e encomendou Galinha de Capoeira, Fava verde, Cachaça da Boa, Cerveja Gelada e Rum Montilla Carta ouro, Coca Cola, Gelo e Limão (para mim, sem saber nem que eu ia). Arnaud Costa não mais bebia, mas era um excelente Garfo e quase dá conta da galinha sozinho.


Sentamos em uma mesa reservada lá nos fundos, tomamos as Providências Iniciais e eu muito curioso, pedi que me "abrissem o jogo", Dr. Aglair dirigiu-se a Arnaud Costa e disse: - Fala Arnaud, tu és mais jeitoso.


Minha curiosidade aumentou: - Então, não foi pra uma farra que me convidaram? O que será? Pensei com meus botões. Arnaud Costa, sempre formal e cerimonioso, retirou os óculos, calmamente com um guardanapo os limpou, e deixou-os em cima da mesa, e iniciou sua preleção:


- Dedé, você sabe da preferência que o Dr. Aglair, eu e o Dr. Josué Dias de Oliveira sempre tivemos pelo seu nome para a sucessão de Dr. Aglair na Prefeitura. Isso nós sempre discutíamos no Escritório Sobral Pinto (Escritório de Advocacia de Dr. Josué e Arnaud Costa). 


Ocorre, que ao longo do mandato de Dr. Aglair, o nome de Dona Dida, cresceu muito, e ela convenceu-se de que, para ganhar do PMDB, só ela conseguiria, apesar dos Riscos Jurídicos que estaríamos correndo. É tanto, que às vésperas das Convenções Partidárias, não encontramos um vice para Dona Dida. Muita gente desconfia, que podemos ganhar as eleições e não levar, por conta dos Problemas Legais que envolvem essa Candidatura.


Continua Arnaud: O Dr. Emir Nunes, quer retirar a Candidatura pelo PDS 2. Mas o Governo tem como fazer ele manter a Candidatura. Outras pessoas com bom nome na Cidade, foram convidadas e não aceitaram ser Vice de Dona Dida, pelo risco que a Candidatura corre de ser impugnada antes ou mesmo depois das eleições se ela ganhar. Estamos nesse impasse.


- Arnaud, o que é que eu tenho a ver com isso? Perguntei.

- Nós aqui pensamos, que você poderia aceitar ser o Vice de Dona Dida! Viemos aqui oficialmente, fazer-lhe o convite! Você é um médico jovem, querido por todos, independente de cores partidárias. Têm trânsito livre por todos os setores da Sociedade. É professor do Colégio Estadual de Itabaiana e têm grande influência no eleitorado jovem e estudantil. Transita livre, desde Blocos Carnavalescos às Peladas nas areias do Rio Paraíba, passando por bares e qualquer recanto de Itabaiana. Por Esse Motivo, Estamos Aqui.


- Meus amigos! Existem alguns problemas que impedem que esse desejo se realize. Respondi.

- Primeiro: Dona Dida, apesar de minha amizade com Dr. Aglair, me olha meio enviesado, por conta de minha amizade com Edilson Andrade e com o Dr. Edvaldo Pereira Carreiro, diretor do Hospital São Vicente de Paulo e inimigos políticos dela.

- Segundo: Não gosto do jogo não muito limpo da Política Partidária.

- Terceiro: O Partido do Governo, o PDS nunca me agradou.

- Quarto: O Vice, ao invés de ter nome forte, deve ter Dinheiro, e eu não tenho. 

- Quinto: Eu também acho que ela não me aceita também não!


Dr. Aglair que não tinha falado ainda, disse: 

- Se ela não aceitar, lançaremos você pelo PDS 3 e você trará votos de descontentes de todas as alas, além daquelas pessoas que já lhe admiram!

- Dr. Aglair, eu iria fazer papel de quê? Sem dinheiro, sem estrutura, sem palanque, sem nada? Eu iria fazer papel de Mamulengo de Ópera-Bufa em Meio de Feira! Respondi.

- Nós encontraremos uma forma de ajudar você! Que tal? Disse Arnaud.

- Não! Definitivamente Não! Respondi.

Nô Almeida já mais ou menos irritado, disse:

- E você têm o que querer, seu Cabra! Quem manda em você é seu Benfeitor, o Dotô Aglair! Não discuta! Essa conversa já foi longe demais!

- Muito bem Nô! Arnaud, segunda-feira, leve Dedé pra falar com Dida, e assunto encerrado. Prepare a documentação legal dele, e vamos à Convenção! Ele vai ser o Vice de Dida e Ponto Final. Disse Dr. Aglair.


Por gratidão ao Dr. Aglair, aceitei a missão. Disputei as eleições de 1982, como Vice-Prefeito de Dona Dida e ganhamos do PMDB, por uma diferença de 263 votos. Fomos Diplomados pelo Juiz Eleitoral. O PMDB, como se temia, impugnou a chapa vencedora. A justiça julgou procedente o pedido do PMDB. Dois eleitores contrariados com o resultado do julgamento, no dia 30 de dezembro de 1982 atentaram contra à vida do Juiz. Houve muitos desdobramentos pós essa ação. No impedimento de Dona Dida, fui empossado como Prefeito do Município interinamente. Governei Itabaiana do dia 31 de janeiro de 1983 até o dia 09 de março de 1983. Arnaud Costa, foi Secretário Geral da Prefeitura nos 39 dias que exerci esse mandato. 


Em 09 de março de 1983, o Presidente da Câmara, o Vereador Edilson Andrade tomou posse como Prefeito, até outubro de 1984, quando assumiu definitivamente o Sr. Severino Ramos da Silva (O Galego da Prestação), eleito numa Eleição Extemporânea ocorrida apenas em Itabaiana.


As entrelinhas dessa viagem que 4 amigos fizeram em Lírio Verde da Esperança (O Fusca Verde de Nô Almeida, que ainda hoje repousa em uma garagem), para a Cidade de Ferreiros, está sendo revelada hoje, dia 06 de outubro de 2023, 41 anos depois. É a História Real, Nunca Antes Contada Oficialmente. Na foto, eu e Dona Dida quando recebemos a notícia que ganhamos a eleição.


José Barbosa de Lucena (Dr. Dedé), Itabaiana – PB, 6 de Outubro de 2023.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

                                            








                                   UMA BREVE HISTÓRIA DO NÓ CEGO

                                                                  ( DE 1975 A 1983 )


       Minha inspiração para colocar o nome NÓ CEGO em nosso bloco carnavalesco , veio de um episódio singular e curioso .

      Em janeiro de 1973 , eu iniciava o 4° período do Curso de Medicina na UFPB . Fui convidado por Dr . Aglair da Silva , para frequentar as dependências do Hospital São Vicente de Paulo em Itabaiana . Iria começar a observar a rotina hospitalar , os atendimentos ambulatoriais , as pequenas cirurgias , enfim , iniciar os primeiros passos na futura profissão de médico .

      A primeira recomendação de Dr . Aglair , foi no sentido do estudante observar muito , perguntar mais ainda e NUNCA atrever -se a fazer o que não sabia . Em uma emergência , usar o bom senso e a prudência , enquanto  alguém capacitado chegasse para resolver a situação .

      Segundo Dr . Aglair , o estudante de tanto observar e perguntar , sendo uma pessoa observadora , dentro de 6 meses , já estaria capacitado a participar de pequenos procedimentos ambulatoriais , sob a supervisão de um profissional médico . 

      Segui esse primeiro conselho à risca !

Após uns 6 meses de Olha - Pergunta , Olha - Pergunta ,  Olha - Pergunta , me achava capacitado de pelo menos , " dar uns três pontinhos " em um ferimento NÃO complicado .

      As parteiras e enfermeiras do Hospital , faziam partos , suturas e pequenos procedimentos ambulatoriais . As vezes quando necessário , auxiliavam os médicos em cirurgias de maior porte . Aprendi muito com elas .

      Certo dia , chegou um jovem com um pequeno ferimento no antebraço medindo cerca de 4 a 5 cm . Pelos meus cálculos , levaria uns 3 ou 4 pontos .

      Dr . Aglair estava operando com outro médico , e pedi a enfermeira que fosse comunicar - lhe o fato . 

      Dr . Aglair disse : - Chame Dedé , que ele já tem condições de fazer uma pequena sutura !

      A enfermeira voltou , e comunicou - me o ocorrido .

      Argumentei com a enfermeira , pensando no primeiro conselho que Dr . Aglair tinha dado :

- OLHE ! OLHE ! OLHE ! PERGUNTE ! PERGUNTE ! PERGUNTE !

      - É melhor você fazer ! Respondi a enfermeira .

      - Dr . Aglair disse que você já sabe fazer uma pequena sutura ! Respondeu a enfermeira .

      Pelo que eu tinha observado , era um pequeno ferimento de bordos regulares e nenhum vaso calibroso tinha sido atingido . Naquele momento , me julguei capaz de realizar o procedimento , pelo que eu tinha aprendido nos últimos 6 meses . Encarei o desafio !

      Iniciei o procedimento limpando bem o ferimento , infiltrando o anestésico local e fazendo a sutura propriamente dita . 

      O nervosismo de " toda primeira vez " , me inibiu um pouco . Tive dificuldade em dar o NÓ CIRÚRGICO TRADICIONAL . Não consegui após várias tentativas . No IMPROVISO , dei um NÓ CEGO  em cada um dos 4 pontos necessários .

      Posteriormente , a cicatrização da ferida , mostrou que o tipo de NÓ dado , não teve influência negativa no resultado da sutura .

      Meia hora depois , chega Dr . Aglair no ambulatório perguntando como foi minha 

" primeira vez " . Rapidamente relatei o ocorrido e o IMPROVISO DO NÓ CEGO . Ele riu muito e disse que no futuro , eu ia ver , que em uma Sala de Cirurgia , às vezes o IMPROVISO , é a maior arma do cirurgião . Foi a segunda grande lição que recebi do Mestre , que passou o resto da tarde me ensinando os diversos tipos de Nó Cirúrgicos que existem . Recebi ainda nessa tarde , a terceira grande lição de meu aprendizado .

      Dr .Aglair , dentro das muitas qualidades que tinha , uma era ser brincalhão ! Por conta desse episódio , colocou - me o apelido de NÓ CEGO !

Pensei comigo : - Se eu for me encabular , esse apelido pega !

     A partir daí , no início de 1974 , eu no 5° período de medicina , Dr . Aglair começou a me chamar para auxilia - lo nas cirurgias que fazia tanto no Hospital São Vicente de Paulo em Itabaiana , como em João Pessoa no antigo Pronto Socorro Municipal aos domingos . Ainda não existia o Hospital de Trauma .

      Qualquer assunto que Aglair quisesse comigo , dizia à enfermeira : - Menina , chama Dedé Nó Cego aí !

      Feito esse preâmbulo , para caracterizar bem o termo NÓ CEGO , vamos agora à História da Fundação do BLOCO DO NÓ CEGO !

      O Carnaval de Itabaiana nos anos 50 e 60 , sempre foi o melhor das cidades do Vale do Rio Paraíba . Era frequentado , por pessoas dessas cidades e de outras oriundas do vizinho estado de Pernambuco como Timbaúba , Goiana , Ferreiros , Camutanga , Itambé e Nazaré da Mata . Esse pessoal participava tanto do carnaval de rua , como o de Clube . 

      O auge desses grandes Carnavais , foi o Carnaval de 1970 , O SETENTÃO , quando o período carnavalesco , foi de 8 dias seguidos , de uma quarta feira à outra que era a quarta feira de Cinzas . Esse Carnaval , foi promovido pelo Prefeito Dr . Josué Dias de Oliveira , irmão do músico SIVUCA , e que governou Itabaiana no período compreendido entre janeiro de 1969 a janeiro de 1973 .

      Após o CARNAVAL SETENTÃO , houve um arrefecimento nos festejos Momescos em nossa Cidade . Um declínio grande , que a população , sentiu ! Várias Agremiações Carnavalescas deixaram de existir , à exemplo da escola de samba , IMPERADORA DO SAMBA . 

      O Carnaval de Clube sentiu menos . A lapada grande , foi no Carnaval de Rua .

      Nosso carnaval , passou a viver , uma espécie de  " PERÍODO SABÁTICO " ! Não aparecia NADA DE NOVO NO FRONT MOMESCO !

      Em 1975 , eu estava no 8° período de Medicina , e juntamente com um grupo de cerca de 25 pessoas , começamos a pensar em um Bloco Carnavalesco , que sacudisse a apatia e letargia que desmotivava os foliões da Cidade . Era preciso ressuscitar os Grandiosos Carnavais de Rua , das décadas de 50 e 60 .

      As reuniões , eram na Rua Meira de Vasconcelos , na OFICINA DE ZÉ DE NANA ,vizinha à casa do meu avô . Na oficina , fabricava - se Selas e Arreios de Couro .

      Nessas reuniões , começamos a estabelecer as bases e fundamentos do Bloco . A começar pelo nome .

      Sugeri o nome " NÓ CEGO , contando a história do apelido que Dr . Aglair tinha colocado em mim .

      A FAIXA ESTANDARTE do Bloco , seria sustentada nos dois lados , por hastes de madeira ( Caibros ) . O desenho de um NÓ com as pontas viradas para um lado e para outro seria pintado nessa faixa de mais ou menos 1 metro de largura por 3 ou 4 metros de extensão . Nas pontas das cordas do desenho posteriormente , seria desenhado um Pitu ou Caranguejo em cada lado , com as patinhas puxando para cada lado , ARROCHANDO O NÓ . Em 1975 , não teve patrocínio  e consequentemente , não teve CRUSTÁCEOS ARROCHANDO O NÓ CEGO !




Os Pitus ou Caranguejos , só seriam desenhados na FAIXA ESTANDARTE , a partir de 1976 , dependendo de quem fornecesse nossa Cachaça para transformarmos em Batida e que durasse os três dias de Carnaval . Era muita Cachaça !

      Não sou desenhista , mas fiz um esboço do NÓ em cartolina , e pedi a Lucinha de Rangel para pintar o NÓ na FAIXA ESTANDARTE  e  nas 24 ou 25 camisetas do Bloco .

      Fomos procurar a Orquestra de Zezé de Dr . Olívio para acertar as saídas nas manhãs do domingo e segunda feira de Carnaval . 

      Acertado o preço da orquestra , ficou estabelecido , que uma FÔRMA DE BARRO fornecida por BABÁ , seria o " VASILHAME " da Batida feita com Cachaça , Gelo , Limão e Açúcar . A Cachaça foi doada por amigos de Areia , o Gelo por Mário da Sorveteria , o Açúcar por Seu Geraldo Fonseca e o Limão por amigos que tinham sítios . Diz a LENDA , que o Delicioso sabor da Batida do NÓ CEGO , se deve ao fato de algumas gotas do SUOR DO MEU SUVACO estarem presentes no momento que eu preparava a BEBERAGEM ! 

      A Fôrma de Barro com a Batida , seria conduzida por um Carro de Madeira com 4 rodas e Direção Manual e que funcionaria além de Armazenamento Etílico , também como Carro Abre Alas do Bloco . 

      Pensou - se também , em um CARROÇÃO puxado por PEDÃO , JÚLIO GABRIEL E OUTRAS PESSOAS FORTES , que aguentassem bem , o 

" Tranco " que era puxar ou empurrar um CARROÇÃO carregando os músicos , bebidas , água , gelo e algumas " Personalidades " que se embriagaram logo cedo ! Não conseguimos CARROÇÃO em 1975 . Só conseguimos a partir de 1976 , após muita reclamação dos músicos que se misturavam na multidão e levavam muita pancada , principalmente nos lábios . 

      Faltava ainda , dinheiro para outras despesas e resolvemos fazer comissões para pedir ajuda para o Bloco , no Comércio e na Feira Livre da terça feira . No comércio , sempre " pingava " alguma coisa . Na feira de carne , os marchantes sabendo que teria farra depois da comissão , doavam o tira - gosto . Existia sempre uma 

" sacolinha " para levar fígado , rins , rabada de boi ou de porco .

      Nosso tesoureiro , desde o início , sempre foi o Professor Luis Paraíba , que era muito seguro , no trato com dinheiro .

      Ficou estabelecido ainda , que no domingo pela manhã , visitariamos o Professor Emir Nunes em sua residência , onde nos esperava bebidas e petiscos . Na segunda-feira pela manhã , visitariamos a residência do Sr . Adônis Gomes de França , onde nos esperava também , bebidas e petiscos . Na saída , Seu Adônis presenteou o Bloco , com uma caixa de Rum Montilla e uma grade de Coca-Cola , para continuarmos a farra .

      Segundo nossos cálculos , faltavam 8 dias para o Carnaval , e estava tudo pronto e pago .

SÓ QUE NÃO ! Onde foi que já se viu um Bloco que queria tornar - se referência no Carnaval de uma Cidade sem ter um Hino a representa - lo ?

FALTAVA O HINO DO NÓ CEGO !

      Em uma reunião emergencial , decidimos compôr um Hino para o Bloco .

      O estúdio para a composição da música , foi a mesa do Bar da Minha Mãe , na Rua Fernando Pessoa , 63 . Estavam presentes NESSE HISTÓRICO MOMENTO :

DR . VILINHO COM O SEU VIOLÃO , EU METIDO A COMPOSITOR COM LÁPIS E PAPEL NAS MÃOS , LUIZINHO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM UM PEDAÇO DE MADEIRA PARA TAMBORILHAR NA MESA FAZENDO A PERCUSSÃO , PROFESSOR ELIAS COMO OBSERVADOR E PROFESSOR LUIS PARAIBA COMO TESOUREIRO PARA PAGAR AS DESPESAS COM O " ESTÚDIO " DE GRAVAÇÃO .

      Iniciamos os trabalhos , esquentando às orelhas e às mentes . Depois começamos a elaborar uma Trilha Melódica muito simples , mas bastante animada e chamativa , no ESTILO FREVO PERNAMBUCANO . O Dr . VILINHO , elaborou a música . Eu ia escrevendo os versos no ritmo da música ...

      De repente , Dr . VILINHO parava o violão e dizia : - DEDÉ , TEM MUITA PALAVRA PRÁ POUCA MUSICA ! ENCURTE UM POUCO A FRASE !

DAQUI À POUCO , NOVAMENTE O DR . VILINHO PARAVA O VIOLÃO E DIZIA : - DEDÉ , AGORA TEM POUCAS PALAVRAS PARA MUITA MÚSICA ! ESTIQUE UM POUCO A FRASE !

      E nesse chamego de ESTIQUE - ENCURTE e ENCURTE - ESTIQUE , após umas 6 horas de boa farra , e " Trabalho Criativo " , o HINO DO NÓ CEGO FICOU PRONTO !

      No dia seguinte , nosso trabalho foi cantar exaustivamente às estrofes do HINO DO NÓ CEGO para Zezé de Dr . Olívio aprender e transmitir aos outros componentes da orquestra .

      No domingo de Carnaval pela manhã com a presença de 90% dos componentes do Bloco 

( alguns estavam de ressaca da " Carraspana " do sábado a noite e lamentam até hoje , não estarem na PRIMEIRA FOTO HISTÓRICA DO BLOCO ) , a ORQUESTRA ,o CARRO DE MADEIRA com a BATIDA DO NÓ CEGO em cima e a FAIXA ESTANDARTE DO NÓ CEGO estendida nos Portais da Igreja por cima da Entrada Principal , tiramos a FOTO HISTÓRICA DO 1° ANO DO NÓ CEGO .

      Padre Antônio Kemps quase processa a gente , pela ousadia da foto em frente a Igreja com aquela PRESEPADA toda ! Tive posteriormente uma boa conversa com o Vigário me desculpando e nos tornamos amigos !

      A partir de 1975 , o Carnaval de Itabaiana foi sacudido em sua apatia e letargia e novamente despertou a vocação da Cidade para promover Grandes Carnavais .

      Uma nova era carnavalesca começou a tomar corpo já em 1976 ! Novos blocos e Troças foram surgindo . Todos queriam um lugar ao sol , ou na avenida , como queiram .

      Como Bloco de Arrasto , o NÓ CEGO consolidou - se como o maior e mais animado bloco até então .



      No NÓ CEGO , existiam algumas regras NÃO ESCRITAS , que no início caracterizaram o Bloco .

      A Segurança por exemplo , era feita pelos membros maiores e mais fortes do Bloco . Qualquer tentativa de bagunça , o elemento estranho era " aconselhado " por essa TROPA DE CHOQUE a se comportar direito ou deixar o Bloco .

      As esposas , noivas , namoradas , irmãs ou filhas de componentes do Bloco , eram aconselhadas a não seguirem o bloco , nem usarem a fantasia , pois pensávamos que muita confusão poderia ser evitada com essa medida . Alguns anos depois , após muita insistência , as mulheres começaram a sair no Bloco . Isso após a BAGACEIRA lançar um BLOCO MISTO !

      Alguns queriam cordão de isolamento . Nunca permiti . Era para todos brincarem !

      Os Carnavais de 1976 e 1977 , foram como Céu de Brigadeiro para o NÓ CEGO . 

      Em 1976 a PITU ofereceu patrocínio através do Comunicador Ivo Severo e seu Carro de Som . Forneceu a cachaça para os três dias de Carnaval e nós colocamos o desenho dos 2 PITUS com às patinhas puxando a corda do NÓ de um lado e do outro , ARROCHANDO O NÓ . Um outro ano , foi a vez de 2 Caranguejos serem desenhados na Faixa Estandarte do NÓ

      Em 1975 eram 25 componentes . Em 1976 passaram de 100 componentes . Em 1977 esse número passou de 300 componentes ! 

      Em 3 anos de vida , o NÓ CEGO já tinha algumas tradições formadas e que todos conheciam . Vejamos :

01 ) Existiam 4 símbolos imutáveis

   a) FAIXA ESTANDARTE  com o NÓ CEGO 

        pintado

   b) CARRO DE MADEIRA carregando a BATIDA

        do NÓ e funcionando como ABRE ALAS do

        Bloco

    c) O HINO DO NÓ CEGO que todos conheciam

    d) O CARROÇÃO puxado por pessoas para 

         carregarem os músicos

02 ) LOCAL DE SAÍDA E TRAJETO

   a) DOMINGO - SEDE DOS TRABALHADORES , 

        LADEIRA DA UNIÃO , RUA GRANDE , IGREJA 

        MATRIZ , RUA GRANDE , PRAÇA EPITÁCIO 

        PESSOA

   b) SEGUNDA FEIRA - POSTO FISCAL , RUA DO CARRETEL , RUA DA LAMA IGREJA MATRIZ , RUA GRANDE , PRAÇA EPITÁCIO PESSOA , RUA GRANDE E IGREJA MATRIZ

c) TERÇA FEIRA - CASA DA MÃE POBRE , PRAÇA EPITÁCIO PESSOA , RUA GRANDE  IGREJA MATRIZ , RUA GRANDE , PRAÇA EPITÁCIO PESSOA , RUA GRANDE E IGREJA MATRIZ

03 ) ÀS TRÊS PRIMEIRAS MÚSICAS , ERAM TOCADAS NESSA ORDEM TODOS OS TRÊS DIAS :

 BRASIL - ESPANHA , ÚLTIMO DIA , E O HINO DO NÓ CEGO QUANDO O BLOCO ENTRAVA NA RUA GRANDE . DURANTE O TRAJETO OUTRAS MÚSICAS ERAM TOCADAS E REPETIDAS .

DE UMA COISA NÃO ABRIAMOS MÃO :

SÓ SE TOCAVA FREVO PERNAMBUCANO , SAMBAS CARNAVALESCOS E MARCHINHAS .

OUTRO TIPO DE MUSICA , NEM PENSAR !

      Em 1978 , surgiu uma coisa nova , bem estruturada e organizada . Tinha Samba Enredo muito bem elaborado e que homenageava a Professora Dona Marieta . Várias Alas e muita inovação , trazidas por Dr . Breno ,seus parentes e amigos . Uma fantasia muito bonita com um macacão amarelo e preto . Escola de Samba própria . Era a BAGACEIRA estreando no Carnaval Itabaianense . Em 1978 , a BAGACEIRA , foi um espetáculo à parte no Cenário Carnavalesco de Itabaiana .

      Acendeu um " PISCA - ALERTA " na Diretoria do NÓ CEGO .

      - A BAGACEIRA , CHEGOU PRÁ DESATAR O NÓ do NÓ CEGO ! Vamos tomar as devidas providências , no bom sentido , é claro !

      A primeira providência , foi mandar confeccionar macacões com tecido de qualidade no Recife . Colocar a logomarca do bloco ( Nó Cego desenhado ) nas costas do macacão , sem patrocínios estampados , para que o usuário vestisse o ano inteiro , como uma vestimenta qualquer .

      Uma contabilidade mínima seria necessário , com Receitas e Despesas , onde o lucro obtido com às vendas dos macacões , cobrisse as despesas com a confecção dos mesmos , preço da Orquestra e eventuais despesas com viagens ou outros gastos extraordinários . O bloco não visava lucro algum .

      O NÓ CEGO , em 1979 , saiu à altura de rivalizar com a BAGACEIRA . Nesse ano , talvez Itabaiana tenha presenciado o maior Carnaval de Clube e de Rua de todos os tempos . 

      A " Rivalidade Amistosa " entre os dirigentes do NÓ CEGO E BAGACEIRA , incentivava essa 

" SALUTAR COMPETIÇÃO " .

      Ao povão dizíamos que éramos rivais . Na realidade , éramos amigos e estimulavamos a competição , visando o crescimento do Carnaval da Cidade .

      Em 1980 , aconteceu um fato curioso . Desde a fundação do NÓ CEGO , existia uma parceria entre o nosso bloco e a UNIÃO DE ARTISTAS E OPERÁRIOS no contrato das Orquestras . Nós pagavamos 40% do valor da orquestra , e a UNIÃO pagava os 60% restantes . Seu BERTO , assinava pelo União e Luis Paraíba pelo NÓ CEGO .

      Segundo o tesoureiro do NÓ , os 40% nosso já estava guardado , esperando apenas a assinatura do contrato . Segundo Seu Berto , 50% da parte que cabia à UNIÃO , já estava em caixa , com a venda antecipada de mesas . O restante seria arrecadado durante os bailes com a venda de mesas e ingressos individuais na bilheteria .

      Ocorre que o Carnaval de 1980 , foi muito bom e concorrido . Houve falta de Músicos e Orquestras no mercado . Seu BERTO nos procurou , e expôs o problema . Faltando 10 dias para o Carnaval , tínhamos tudo pronto e pago . Só faltava , a ORQUESTRA !

      Colocamos os pés na estrada à procura de orquestras . Seu BERTO foi para um lado e Eu , Biu Caiau , Rangel e Trajano fomos para Cidades de Pernambuco onde sabíamos ter Bandas de música . Fomos à Timbaúba , Goiana , Itambé , um Distrito sei lá de onde , chamado MACUGÊ

( O carro de Biu Caiau quase fica atolado dentro dos canaviais ) e Nazaré da Mata ... NADA !

      A turma da BAGACEIRA soube do fato e começou a espalhar o boato de quê o NÓ CEGO , não sairia por falta de Orquestra . E se saísse , seria com o Carro de Som de Ivo Severo tocando minhas Seleções de Frevos , Sambas e Marchinhas que eu tinha gravado em várias Fitas Cassetes . Ainda não existia CDs . 

      Passamos a semana toda procurando Orquestra , e...NADA !

      Passei a pensar seriamente , na possibilidade de contratar Ivo Severo para conduzir o NÓ CEGO , pelas ruas , ao som de minhas Fitas Cassetes . O HINO DO NÓ CEGO ainda não tinha sido gravado . Não existia CDs !

      Meu carro , uma Belina , quebrou e estava em uma oficina .

      Na sexta-feira que antecedia o sábado de Carnaval , quase em desespero , lembrei que em Areia , tinha uma Banda de Música onde tocavam vários amigos e Colegas de Estudo . Fui nessa mesma noite na casa de Nicó Petronilo expus a situação e pedi emprestado o Opala Verde placa 0415 juntamente com o Motorista DAGA para na manhã seguinte , sábado de Carnaval , às 5 horas da manhã ir a Areia , fazer a última tentativa de contratar uma Orquestra . Contei prá ele toda a história . NICÓ chamou DAGA , mandou encher o tanque do Opala e disse que era sua contribuição ao NÓ CEGO . Quando saí da casa de NICÓ , fui direto a casa de Seu Berto e contei o ocorrido .

Seu BERTO já em desespero , topou na hora . 

      Às 5 horas da manhã em ponto , partimos para Areia , DAGA dirigindo o Opala , EU e Seu BERTO .

      Chegando em Areia , procurei Antônio Ribeiro , 

músico , amigo e Colega de estudo em Areia , para ver a possibilidade de contratar uma Orquestra . Fui informado que ele e quase todos os componentes da Banda de Música , tinham sido contratados para tocar em Pilar e outras Cidades adjacentes .

      Nossa última esperança estava indo embora !

      Resolvi antes de voltar à Itabaiana , visitar o Bar de meu amigo TERCINO para beber , comer alguma coisa e rever o amigo .

      Chegando no Bar , contei minha Odisseia a TERCINO . Ele olhou prá mim e disse : 

- Nem tudo está perdido CRIANÇA ! ( Criança ,era o meu apelido em Areia !

- Tem um Concluinte de Agronomia que toca Pistom . Ontem ele esteve aqui com mais dois colegas de Curso , um toca Saxofone e o outro Trombone . Estavam revoltados , tomaram uma 

" Cachaça de juntar menino atrás " , pois não tinham nenhum contrato ! Saíram se lamentando !

- Já é uma Orquestra ! A percussão , a gente arranja em Itabaiana . Onde eles moram , TERCINO ? Perguntei .

 - Em uma República na Rua do Pirunga , a uns 100 metros da casa onde morasse . Pergunta aos vizinhos , que todo mundo ensina ! Respondeu TERCINO .

      - TERCINO , daqui à pouco volto ! Vamos embora , seu Berto , procurar esses músicos ! Afirmei .

      Saímos a procura do endereço e Seu BERTO disse : - Se sobraram , é porquê não tocam NADA !

      - Vamos conferir , Seu Berto ! É nossa última oportunidade . Na situação que estamos , aparecendo um GATO TOCANDO TUBA ou o CÔCO DE PABULAGEM , eu contrato ! Respondi .

      Logo achamos o endereço . Parecia uma cena de Guerra ! 

      Três pessoas dormiam em esteiras espalhadas na sala . Roupas , restos de comidas , garrafas de bebidas vazias , uma Radiola Portátil e vários Discos de vinil de Frevos espalhados pelo chão da sala , completavam o cenário .

      Bati palmas para acordar o trio . Acordaram assustados e meio " grogues " . Me identifiquei dizendo que já tinha morado em Areia . Meu apelido era CRIANÇA . Era ex - aluno da Escola de Agronomia .Tinha muitos amigos em Areia e queríamos contrata-los para tocar em Itabaiana . E explicamos como seria o contrato . Toparam na hora , e o contrato foi de BOCA !

      Os músicos tomaram banho , trocaram de roupas , arrumaram às bagagens e os Instrumentos , colocaram na mala do Opala . 

      Voltamos ao Bar de Tercino para comermos e bebermos alguma coisa , e fazer um pequeno ensaio de como era o HINO DO NÓ CEGO . Aprenderam na hora !

      Seu Berto me chamou de lado e disse "

- Ainda bem que eu estava errado sobre o trio !

      Tomamos mais algumas cervejas , pagamos a conta , agradecemos à Tercino e nos emprensamos os 6 no Opala de NICÓ e partimos para Itabaiana . Eram 4 horas da tarde . A BAGACEIRA , teria uma " SURPRESINHA " pelo boato que tinha criado e espalhado ao longo da semana Pré - Carnavalesca .

      Durante todo o dia , não tivemos nenhuma comunicação com Itabaiana . Não havia celulares . Telefones residenciais , eram poucos e nem todo mundo , podia ter um em casa . O sábado inteiro , foi de ALTA TENSÃO em Itabaiana . A BAGACEIRA , confirmando o boato .

As evidências , eram claras . Os componentes do NÓ CEGO , ainda tinham vagas esperanças ,de que um milagre acontecesse . Mas , estavam muito temerosos .

      Chegamos em Itabaiana , às 17.30 horas da tarde . Paramos na casa de BRÃO . Mandei DAGA ir levar Seu BERTO em casa e recomendei aos dois , SIGILO ABSOLUTO sobre a Orquestra .

      A casa de BRÃO , era o Quartel General do NÓ CEGO . Apresentamos os músicos a BRÃO e aos outros Componentes do Bloco , que já estavam em Polvorosa . Recomendei a todos , SIGILO ABSOLUTO sobre a ORQUESTRA . Chamei o meu Compadre Rangel e por conta do BOCÃO que ele tinha , mandei - o em uma MISSÃO SECRETA :

- Meu compadre , vá em frente a sinuca iniciar a preparação de uma SURPRESINHA para a BAGACEIRA !

- Chegue lá , avalie o ambiente e provoque dizendo que " VOCÊS PODEM TER UMA SURPRESINHA DE UMA HORA PRÁ OUTRA . VOCÊS JÁ VIRAM CARRAPETA DAR EM PIÃO ? NEM NINGUEM DESATAR O " NÓ " QUE O NÓ CEGO DEU ? "  Querem apostar que o NÓ CEGO Sai ?

      Rangel foi tão convincente em seu desafio , que ninguém quis apostar ! 

      Eu contei a ele , o plano da sair da frente dos Correios com os músicos tocando o HINO DO NÓ CEGO , alguns componentes do bloco acompanhando , gritando e cantando a música do NÓ CEGO e a pirralhada fazendo zuada na frente . Eu todo melado de pó e confetes levando um litro de Rum Montilla na mão , abria o 

" DESFILE " . Ele ficasse na espectativa em frente à sinuca , pois quando eu soltasse as primeiras

" Pistoletas " , ele alarmasse , juntasse o povo e corresse para encontrar a PRESEPADA SURPRESA " para a BAGACEIRA . E assim foi feito .

      Saíram gritando : - É O NÓ CEGO QUE VEM ALI , COM TODA " GOTA SERENA " !





      O encontro se deu em frente à casa de Seu Zuquinha . Descemos juntos para frente da sinuca ,sob os aplausos da multidão que estava nas calçadas . O relógio marcava 7 horas da noite quando a PRESEPADA chegou em frente à sinuca . A orquestra tocou o HINO DO NÓ CEGO por uns 15 minutos . A multidão gritava :

- NINGUÉM DESATA O NÓ ! NINGUÉM DESATA O NÓ ! NINGUÉM DESATA O NÓ !  Declaramos aberto o Carnaval de 1980 e os músicos foram tomar banho , jantar e se alojarem , para às 10 horas da noite iniciarem o Baile do União e na tarde do domingo saírem com o NÓ CEGO de frente da Sede dos Trabalhadores .

      Eu e Breno , continuamos nossa 

" COMPETIÇÃO AMISTOSA " entre nossos Blocos , por muito tempo . Nós intervalos dos Bailes , Breno e sua turma cantavam o Samba Enredo da Bagaceira . Nós cantávamos o Hino do Nó Cego . Isso , muito valorizou e tornou Grande , o Carnaval de Rua de Itabaiana .

      O último ano que saí no NÓ CEGO , foi em 1983 . Eu , ESTAVA Prefeito de Itabaiana de 31 de janeiro de 1983 à 09 de março de 1983 . Exatos , 38 dias como Prefeito .

      O Carnaval , salvo engano , ocorreu em meados de fevereiro . 

      Convoquei os dirigentes das 4 maiores Agremiações Carnavalescas da Cidade à saber :

- Nosso NÓ CEGO .

- A BAGACEIRA DE BRENO E AMIGOS .

- A ÚLTIMA HORA DE ZÉ DUDU .

- A ACADÊMICOS DO RITMO SE NÃO ME ENGANO DE EPITÁCIO .

      Fiz uma modesta doação em dinheiro para essas Agremiações , uma quantia exatamente igual para todos .

      Aos Blocos Menores , como Índios , bois ursos , piranhas , piabas , etc , etc , etc foi uma quantia menor , mas que contemplou a quase todos , de acordo com às possibilidades da Prefeitura .

      Quase sou " Crucificado " nos PAUS DO NÓ CEGO , por alguns " Amigos Radicais " que entendiam , que BRIGA , é BRIGA e a BRIGA COM A BAGACEIRA , ERA PRÁ VALER !

      A intenção da BRIGA , era incentivar e promover o Carnaval de Itabaiana . 

      E nesse ano de 1983 , segurando o PAU DA FAIXA ESTANDARTE DO NÓ CEGO , de um lado estava o DR . DEDÉ , Médico e Prefeito de Itabaiana . Do outro lado estava o nosso querido DR . VILINHO , Professor , Advogado e futuro Juiz de Direito e Desembargador .

      Vou lembrar agora o nome de alguns FUNDADORES DO NÓ CEGO :

- Dr . Dedé , Dr . Vilinho , Dom Dom sobrinho de Seu Adônis , Zé de Nana , Geraldo de Mário , Bau Marchante , Manoel Cezar , Rangel , Marcos e Cacá meus irmãos ,minha , Prof . Washington , Roberto Almeida , Jocemir , Orlando da Sucam , Lalá da Emater , Zé Marcos , Toinho da Viúva , Os Nicácios , Luiz Paraíba e irmãos , Pedrinho de Dona Laura , Fernando Petronilo , Biu Caiau e outros que agora me falha a memória .

     Nesse final , faço uma Homenagem Especial , a uma pessoa que não foi Fundador do NÓ CEGO . Mas , à partir do 2° ano do Bloco , em 1976 , foi Corpo e Alma para o NÓ CEGO , durante 38 longos anos . Estou falando do Cidadão Ronaldo Silva Ramos , Nosso Estimado BRÃO , dono da Gráfica Beira - Rio .

      A partir de 1976 , BRÃO trouxe para si , o encargo de manter viva a Chama e às Tradições do NÓ CEGO . Tornou - se o " Faz Tudo " , a

" Eminência Parda " do Bloco .

      Enfrentou grandes dificuldades na Condução do Bloco , praticamente , sozinho .

      O " Custo " NÓ CEGO , ao longo dos anos , ia tornando quase inacessível , a sobrevivência do Bloco . Arrebanhou parceiros e procurou tornar o Bloco Auto Suficiente . Zé Marinho e Biu Caiau , foram de grande importância para o Bloco  , que um dia idealizei junto com umas duas dúzias de amigos no longínquo ano de 1975 .

      PARABÉNS , MEU AMIGO BRÃO !

      Itabaiana , é muito rica em sua história , e na história de seus filhos . Está precisando de GENTE , para contar mais histórias suas ...  e de seus filhos ...

  

           JOSÉ BARBOSA DE LUCENA

                          ( DR . DEDÉ )












domingo, 27 de dezembro de 2020

A igreja Nossa Senhora do Carmo ao longo dos anos

 Flaviano Batista Ferreira

A Igreja de Guarita tem como Padroeira Nossa Senhora do Carmo, por ser devota da santa D. Amélia pediu ao seu marido a construção de uma capela para poder rezar junto com os fiéis. Uma curiosidade é que no mesmo ano da construção, Nossa Senhora do Carmo foi coroada Padroeira da Capital pernambucana.


Altar e Imagem de Nossa Senhora do Carmo


Com a morte de Dona Amélia em 12 de fevereiro de 1956, sua nora Dolores Sá, continuou com a missão de cuidar e zelar pela Igreja e assim o fez até a sua morte. Ainda em vida, deixou a cópia de uma chave com Abigail[1], e aos 90 anos de Idade convidou  Zaba e suas irmãs Carminha e Socorro para continuar cuidando do maior patrimônio religioso do distrito de Guarita.



[1] Senhora religiosa, moradora do lado da igreja e por muitos anos conviveu com Dona Amélia e Dolores Sá.


Sagrado Coração de Jesus . Imagens Vindas da França.


                                                                        Altar da Sagrada família 

O distrito de Guarita é um dos mais antigos de Itabaiana, a feira de gado remonta meados do século XIX, mas atualmente a comunidade é totalmente dependente de Itabaiana. A comunidade religiosa não arrecada dinheiro suficiente para poder preservar a beleza estonteante da igreja. Assim sendo, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo passou por momentos de dificuldades como troca de teto, forros e pintura interna e externa. Essas dificuldades ocorreram porque a igreja era registrada como uma propriedade particular, pertencendo à fazenda de Dolores Sá, depois de sua morte ficou complicado manter a igreja e com o tempo ela acabou ficando em péssimo estado de conservação, necessitando de reparos e reformas, (mas devido não pertencer a Paroquia Nossa Senhora da Conceição de Itabaiana), nada podia ser feito, pois para realizar qualquer intervenção o custo era elevado e a comunidade não tinha recursos para realizá-la. Porém Dolores Sá tinha um sonho de doar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo para Paróquia de Itabaiana, mas ela faleceu antes dele concretizar-se.  Sob os cuidados da protetora, Maria José (Zaba), esse feito foi realizado em 2015 e ela passou a pertencer a Paróquia de Itabaiana.


Santuário do Menino Jesus no seu apoteótico berço. Doação do afilhado de Dolores, Alamar Dias Novo.


Altar de Nossa Senhora da Dores. Oferta de Maria Alice da Silva, irmã de Dona Amélia que morava em Recife



Imagem de Nossa Senhora Menina, ornada de ouro e brilhantes.



Em 1999 ocorreu a primeira reforma da Igreja realizada por Carminha e Padre Eudézio Guedes e a segunda campanha para reforma do telhado ocorreu em 2015 por Zaba e o Cônego Dorgival Vicente. A troca do telhado custou 25 mil reais. A Segunda fase da campanha do Centenário está acontecendo através do Padre Felipe Luz, foi realizada a pintura interna e será concluída com a pintura externa em 2021 na festa da Padroeira de Guarita, Nossa Senhora do Carmo.

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A festa do Centenário da Igreja de Nossa Senhora do Carmo teve o tríduo com missas e no dia 20/12/2020 houve o encerramento. FOTO: Paróquia Nossa Senhora da Conceição.

 


 Severino (Biu), morador de Guarita a mais de 60 anos, lembra que quando tinha 30 anos de idade fez parte da Comissão do cinquentenário da Igreja em 1970. A comissão era composta por oito pessoas, as mesmas saíram nas cidades circunvizinhas de Guarabira, Sapé, Mogeiro, Timbaúba e outras com o objetivo de arrecadar dinheiro para a festa. Além de dinheiro conseguiram objetos como carrinhos, bonecas e outros que eram vendidos na feira.

Compunham a comissão da festa o Padre Antonio Kemps, Dolores Sá, Zé Pedro e Abigail (pais de Zaba) e outras famílias tradicionais de Guarita. Foram três dias de festa, com parque de diversão, barracas de comidas e bebidas, além do pavilhão com dois partidos Rosas e Lírios, sendo as Rosas o partido vencedor, em seguida houve o baile da rainha na escola que fica do lado esquerdo da igreja.  “Foi uma memorável e grandiosa festa que em Guarita nunca viu igual”.

Devido a Pandemia e as recomendações da Arquidiocese do Estado da Paraíba em seguir os protocolos de segurança do novo coronavirus, a festa do Centenário teve um brilho apagado, não acontecendo à altura da Virgem de Nossa Senhora do Carmo.

 

REFERÊNCIAS

 

ARAÚJO, Reginaldo Alves de. No Remanso do Luar. Associação de Novos Escritores de MS. 1ª edição. 2002.

Entrevistas realizada no dia 18/12/2020.  (Felix Severino Correia - 01/10/1951. Severino Batista da Silva -03/11/1940. Maria José Araújo 06/04/1955).

 



quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Foto e Memória





Em minhas pesquisas encontrei essa foto e acredito ter alguma história por trás dela alguém reconhecer essas pessoas??



 A foto parece ser de formatura de algum curso ou talvez de algo ligado a Igreja já que a maioria vestem branco, E dificil identificar, mas parece que vejo D.Zizi e Maria de Zizi, Meninha de Sr. João Chicó, D. Nevinha ( minha catequista) Cleide Fonseca, Maria Gouveia, Daluz ( irmã de Naná)

Orlando Araujo

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Parabéns João Pessoa

 Nas emancipações políticas e aniversários das cidades, buscamos na história dos seus anos de fundação ressaltar a sua memória local, lembrada a partir de suas tradições culturais, dos seus casarões, casarios e paisagens, ou seja, seus lugares de memória construídos ao longo da história, os quais vão deixando marcos e formando a sua identidade. Isso só acontece por intermédio do patrimônio cultural. Por isso o Memória Viva parabeniza a Paraíba e em especial a cidade de João Pessoa, pelos seus 435 anos e por continuar resistindo no que se refere a manutenção do seu patrimônio.